Não é de hoje que expressões artísticas e culturais são vítimas de preconceito. Isso vai desde uma representação de uma pintura exposta em um museu que vale milhões de reais, até o artista de rua que trabalha com artesanato ou música.
Julgamentos do tipo “como pode esse ‘rabisco’ na tela valer tanto?” ou “esses ‘artistas de rua’ são drogados, vagabundos” são comuns em diversos lugares e por diversas pessoas.
Você mesmo já pode ter tido esse tipo de pensamento ao ter se deparado com essas situações ou eventos.
Mas afinal, todos nós não somos consumidores, de certa forma, de expressões artísticas e culturais? Por que ainda se insiste nesse preconceito cultural?
“Vá vender miçanga na praia, vagabundo!”
Vivemos na era digital, onde o consumo por conteúdo digital e streaming tem ganhado muito espaço.
Isso se dá pela facilidade que temos hoje em assistir um filme, uma série, um vídeo no YouTube ou ouvir músicas de qualquer gênero.
Todo esse conteúdo vem por intermédio de artistas que desenvolvem suas ideias e as transformam em obras audiovisuais, que além de ser um meio de expressão ideológica, artística e cultural, também são um meio de entretenimento.
Mas, apesar de toda essa arte sendo consumida diariamente, ainda temos o preconceito e a desvalorização cultural e artística, voltada principalmente para o artista em si.
Tinha-se, antigamente, a propagação da crença de que viver de arte era coisa de vagabundo, de quem não tinha capacidade de conseguir um emprego “decente”.
Artistas de teatro, artistas plásticos, pintores, fotógrafos e toda gama de pessoas que produzem arte e ajudam a propagar expressões culturais, lutam diariamente para viver disso.
Porém, por tais pensamentos, pouca valorização encontramos para esses indivíduos: os artistas.
Tudo isso reflete a desvalorização cultural do país, onde a preservação e valorização da arte e cultura pouco importam.
Desvalorização da cultura
Mas por que vivemos esse preconceito com o trabalho artístico cultural? Isso ainda acontece pois o trabalho artístico é visto como “inferior” ao produtivismo.
Em outras palavras, um trabalho artístico tem menos valor do que um trabalhador que dedica nove (9) horas do seu dia em uma empresa, dentro dessa ideologia.
Nessa linha de pensamento, só é visto como trabalho o que é produto do esforço empenhado em produtividade rentável e, muitas vezes, tangível.
Ou seja, o acordar cedo, pegar ônibus e ir para um lugar onde se deve passar horas a fio, prestar serviços ao patrão, ao chefe, ao presidente da empresa e o enriquecê-lo.
Além disso, o preconceito artístico cultural se relaciona com a ignorância social e baixa escolaridade. E aqui temos um outro problema, que é a questão de acessibilidade cultural.
Muitas pessoas que mal tiveram acesso à educação básica, que foram criadas dentro da cultura do trabalho braçal pelos pais, não conseguem reconhecer valor na atividade artística.
Claro que existem casos opostos onde tais pessoas, que receberam esse tipo de criação, tiveram um contato breve com a arte. O suficiente para quererem mergulhar nela e se tornarem artistas.
No entanto, tudo deve ter um ponto de partida, onde devemos primeiro conhecer para que possamos nos identificar e reconhecer o valor que aquilo representa.
Porém, isso não é possível se não houver acessibilidade e, sem acessibilidade, não há reconhecimento e identificação pessoal.
Artista não é uma profissão?
Por essa falta de reconhecimento e pelo preconceito com a arte e a cultura, adota-se também a ideia de que, para sermos bem sucedidos, temos que exercer um cargo de chefia em uma empresa, ser um advogado, um médico, um engenheiro.
Essa ideia por muitas vezes é transmitida pelos pais durante a formação de seus filhos, onde esses pais acham que é o “caminho convencional” para se ter sucesso na vida e, assim, ser feliz.
Claro que a ideia aqui não é desmerecer nenhuma dessas profissões, afinal cada indivíduo tem o direito de exercer sua vocação.
Igualmente assim, a arte e a cultura também devem ter seu devido espaço e respeito, pois além de ser uma forma onde muitas pessoas encontram um meio de ter uma renda, é uma forma de contribuir com o próximo através de sua expressão artística e cultural.
Quantas vezes você não se encantou com um filme que viu no cinema, com a letra de uma música que reflete aquilo que você pensa da vida, ou uma obra de arte que reflete uma realidade que muitas das vezes não pensamos muito sobre?
Afinal, somos consumidores desse fruto cultural. Experimente ficar sem consumir tais produções artísticas e perceba o quanto tudo isso é importante. Não apenas como um entretenimento, mas também como uma forma de pensarmos e refletirmos sobre aquilo que nos cerca, seja tangível ou intangível.
Pois, a arte e a cultura são extremamente importantes na luta contra qualquer tipo de preconceito.
Redação do Instituto de Cultura e Cidadania